As cobranças que enfrentamos diariamente são implacáveis. Muitas vezes nossa própria cobrança é pior do que as externas. Pois só nós sabemos o que estamos fazendo ou não para atingirmos nossos objetivos. Às vezes nossos esforços são invisíveis aos outros, assim como a fundação de um prédio que fica lá escondida embaixo da terra, mas é a responsável por toda a estrutura que virá. Essas pressões externas, que nos cobram ação, ação e mais ação, podem nos confundir por um momento. Essas mesmas pressões, podem nos fazer acreditar que estamos acomodados, em inércia ou no caminho errado e que o fracasso é certo.

Às vezes penso que demorei a entender os sinais que a vida me mostrava, sobre que caminhos que eu deveria seguir, sobre o que poderia me satisfazer pessoal e profissionalmente. Lembro quando resolvi voltar a estudar e cursar licenciatura em música. Ao telefonar em uma instituição e perguntar sobre como funcionava o reaproveitamento de curso, para eliminar matérias, já que eu era formado em outro curso e algumas matérias coincidiam, a atendente disse:

– Mas você vai entrar na faculdade com quase 28 né?! Se formar com 32?! Ahhh, é meio tarde eu acho, eu não recomendo!!!

É tarde? Demorei? Aos olhos de quem?

Eu poderia ter aceitado a crítica dela e a de tantos outros que fazem coro na hora de nos desestimular. Poderia aceitar o fato de que a música é uma profissão ingrata. Que ser professor é uma profissão ingrata. E aí eu pergunto: ingrata pra quem? Pois pra mim não é! É uma batalha dura, com certeza, mas sou muito grato por tudo que ela já me proporcionou.

Hoje, tenho alunos com mais de 60 e 70 anos. Penso o quanto eu poderia aprender com eles, sobre a vida e suas experiências. Mas estou ali, tendo a honra e o prazer de ensiná-los e ser chamado de professor. Tenho também uma aluna de apenas 8 anos que chegou, em sua primeira aula, toda tímida e falando que estava com vergonha pois nunca havia tocado violão, e saiu da primeira aula toda feliz, tocando “Parabéns pra você”. Eu vejo meus alunos tocando algo que ensinei e me emociono. Enquanto eles estão lá se esforçando e olhando atentamente para o braço do violão eu fico olhando para eles e ouvindo. Ninguém vê isso, mas eu estou lá com um sorriso de satisfação no rosto.

Somos os protagonistas de nossas vidas e isso pode parecer óbvio. Mas quando tomamos consciência de que nosso filme é conectado a vários outros filmes, de vários outros protagonistas, que entram em nossa história para serem coadjuvantes – e nem por isso são inferiores, muito pelo contrário – eles podem vir a ganhar prêmios e ter um reconhecimento muito antes do que nós. Cabe a nós termos paciência e sabedoria para lidar com as cobranças e frustrações que encontramos pelo caminho, pois sabemos que esse é um bom combate e no fim valerá a pena.

Daniel Melo