Empoderamento, termo chave para a Quíron, objetivo final de nossas ações, essa palavrinha que aparece sublinhada com vermelho quando a escrevemos no word, termo às vezes usado até de forma paradoxal (como no poderoso relato desse vídeo https://www.ted.com/talks/khadija_gbla_my_mother_s_strange_definition_of_empowerment?language=pt-br). É uma daquelas coisas que estão em voga atualmente, de posts no facebook a livros de ciências humanas.

Empoderamento dos jovens, feminino, econômico, social… Aparentemente, o significado dessa palavra é conhecido por todos. Mas não.

“Eu não entendo o que é esse ‘empoderamento’ que vocês tanto falam!”. Foi apenas quando ouvi de alguém muito sincero essa frase, é que passei a questionar qual é o sentido que usamos, qual é o sentido para o mundo, qual é o sentido que devemos levar para as escolas.

Fui à busca e tive três surpresas. A primeira é que quando questionamos pessoas sobre isso, é comum que tomem alguns segundos para pensar entre uma respirada e outra antes de responder. A resposta nunca é simples.

A segunda remonta à origem da palavra. Ela tem origem do termo em inglês empowerment, que, na verdade, possui sentido diverso daquele que utilizamos. Autorizar, permitir, delegar, descentralizar, dar autoridade para. Esse sentido não só é diverso, como, parece-me, ofende àquilo que realmente queremos dizer. Quem está empoderado não precisa de autorização, não precisa de alguém que lhe diga como e se pode ou não fazer algo.

E a terceira foi uma surpresa boa. Apesar da origem controversa, diz-se que o termo ganhou um novo sentido com Paulo Freire, e é essa a ideia que mais nos agrada e é esse o significado que acolhemos.

Portanto, na tentativa de tentar ilustrar o empoderamento (até porque a resposta continua não sendo simples), eu diria que tem a ver com adquirir consciência do seu próprio potencial e da sua capacidade de mudar tanto a si mesmo quanto o ambiente em que se vive. É saber ser capaz de refletir a partir do que já existe (dentro ou fora de você) para transformar seu mundo. É como aprender a andar com as próprias pernas, mas não só isso. É aprender a andar com as próprias pernas por um mundo que não se teme conhecer, um mundo do qual se faz parte, no qual se atua estudando, explorando, transformando. Um mundo em que se é reconhecido e em que se reconhece o outro. É não precisar de alguém que lhe diga o que e como ser, mas ter as ferramentas necessárias para simplesmente se fazer e refazer autonomamente ou em grupo.

Dessa forma, não parece ser possível empoderar alguém, como implica o termo em inglês, mas apenas fomentar, auxiliar, educar para que o indivíduo, por si só, empodere-se.

Dentro da lógica em que vivemos talvez o empoderamento tenha a ver com a crítica a realidade em que se está inserido, contudo, a autonomia que aqui buscamos, o empoderamento que visamos como instituição, diz respeito à crítica a si mesmo. Libertar-se das amarras que impomos a nós mesmos para então perceber àquelas que vêm de fora. Perceber que podemos nos fazer ouvidos, que somos capazes de resolver os problemas que surgem e criar formas inovadoras de sermos nós mesmos.

Sobre a educação, Paulo Freire nos disse: “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Se o grupo de alunos não pode sequer votar e concordar com as regras que acha importante em sala, sem um momento para este diálogo, como se pode falar em autonomia? Como falar de cidadania e participação ativa para alguém que está acostumado a receber pronta toda a informação que consome, alguém que não sabe que pode ser responsável pela sua própria construção.

A Quíron acredita no empoderamento dos jovens, para que sejam, também, criadores da nova educação, pois são eles o ponto central da mesma. Mas não basta isso. Acreditamos em professores e diretores que se sentem capazes de criar e decidir, autonomamente e em conjunto, o futuro da educação no Brasil.

Referências:

https://www.revistas.usp.br/sausoc/article/viewFile/29498/31358

https://www.comunicarte.com.br/glossario_social.pdf

https://tupi.fisica.ufmg.br/michel/docs/Artigos_e_textos/Comportamento_organizacional/empowerment_por_paulo_freire.pdf

 

Rostos Blog