Uma menina franzina e quietinha mexe nervosamente os olhos pela sala de aula. Um grupo de meninos maiores, em pé no fundo da sala, faz barulho como se ganhassem para isso. Algumas meninas dão risadinhas entre cochichos, sentadas com as cabeças muito juntas. Um menino mexe no celular, parecendo que não está ali. Um outro faz uma piada para todos escutarem, tentando chamar a atenção da menina que acabou de entrar e tomar seu lugar na frente da sala. O professor de biologia chega e descreve, para si mesmo, o que vê:

Alumnus nerds

Nativo das primeiras fileiras, é essencial para a manutenção do equilíbrio do ecossistema. Sua sobrevivência depende da habilidade em esconder-se de predadores e da capacidade de estabelecer relações simbióticas com seus vizinhos. É a espécie com maior capacidade de adaptação ao modelo de aula estabelecido nas escolas tradicionais, mas isso não lhe rende o tipo de atenção que tanto deseja e de que tanto tem medo. E este medo o trava para desenvolvimento social com o grupo.

Alumnus malandronis

O malandrão é o principal predador do nerd, e isso lhe dá a possibilidade de negociar períodos de trégua quando se aproxima a época de provas. Seu habitat é o fundo da sala, mas faz investidas frequentes às outras partes do ecossistema para afirmar-se como o macho dominante e tentar atrair a atenção de parceiras. Costuma ser líder de um pequeno bando e é obrigado a manter a postura para não perder o respeito de seus subalternos, pouco adaptado com o modelo educacional tradicional. Muitas vezes é o líder em energia, porém desperdiçada em ações que impactam negativamente o ambiente.

Alumnus estridentes

As estridentes vêm invariavelmente em grupos de três ou quatro alunas. Elas implicam com o barulho dos malandrões e com as piadas do palhaço (a ser estudado daqui a pouco), mas não percebem que suas risadinhas incomodam tanto quanto o ambiente. Quando vão juntas, são frequentemente consideradas um único indivíduo, fruto de uma simbiose, frequentadoras da zona de conforto. Geralmente possuem um incrível potencial quando despertam para a sua individualidade, porém as próprias parceiras as travam com medo de perder sua companhia e ter que sair da zona de conforto.

Alumnus passageirus

Os passageiros não possuem um habitat natural e não se dão ao trabalho de marcar território. Seu comportamento é difícil de mapear, conversa quando conversam com ele, dorme quando há tempo livre, se acomoda onde encontra espaço. Em geral, passa despercebido. Não é predador nem é predado. Gosta de desenhar e de música, possui ótimas habilidades artísticas, porém muitas vezes seu método despercebido o distancia do potencial que pode ser explorado e a arte que pode ser aproveitada por todos.

Alumnus palhaçus

Este espécime trabalha com o lema “quanto mais melhor”, e fabrica piadas às toneladas para que algumas poucas ganhem para ele a estima de que necessita. Sua relação com o resto da turma não é parasitária, mas pode ser facilmente tomada como tal. Criativo e inquieto, porém com pouca perspectiva de onde realmente aproveitar este potencial destinado a descontrair o ambiente.

Alumnus bonitas

Cada sala elenca seus exemplares deste espécime. Em ambientes tradicionais, é a beleza física o traço definidor, o que gera competição entre as candidatas. Porém, o conceito de beleza pode ser transformado em alguns ecossistemas, sendo o belo sinônimo de autêntico, algo que pode ser compartilhado com todo o meio ambiente.

O professor de biologia fica triste por seus alunos estarem em um ambiente e se comportarem de forma tão facilmente classificáveis, e também pela classificação seguir parâmetros tão arbitrários como a beleza, o tamanho ou a estridência da risada. Bem que o professor gostaria de vê-los se misturando mais e potencializando estes aspectos. Quem sabe, hoje seja o dia de falar sobre ecossistemas.